segunda-feira, 2 de novembro de 2009

A mulher sem identidade


Para as trabalhadoras anônimas do Brasil, mães, operárias e, acima de tudo, guerreiras!

Josefina era uma escrava doméstica. Não que trabalhasse em casa alheia, mas em seu próprio lar. Laborava de sol a sol para atender os caprichos de seu marido e de seus quatro filhos. Difícil era a vida daquela mulher humilde, resignada em seu destino naquela sociedade patriarcal e notadamente machista. Não sabia ela que, com seus mimos para cada um dos rebentos, reproduzia e alimentava em moto contínuo aquele modo de vida sem o qual não encontrava razão para sua pobre existência.
Até que um dia, ela resolveu dar fim a tudo aquilo. Como não tinha grande coragem para enfrentá-los, esperou o cair da noite e todos adormecerem para ganhar a estrada já na madrugada. Como sabia que seria caçada tal qual um animal selvagem – de que, há muito, não se afastava –, ganhou o mundo embrenhando-se na mata. E como não tinha nem experiência e nem conhecimentos para vencer aquele desafio, tampouco dinheiro para eventuais necessidades, acabou por falecer de fome, frio e sede. Tudo ao mesmo tempo. Seu corpo foi encontrado dias depois. Mas não foi reconhecido, sequer identificado...
Faltavam-lhe as digitais – e ela nunca havia ido a um dentista, não havia registro qualquer de sua arcada dentária. As linhas da mão e dos dedos ela havia perdido na soda cáustica do grosso sabão que usava na limpeza domiciliar, roupas, pratos, banheiro e chão.
Afinal, sempre fora uma mulher sem identidade...

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