sábado, 1 de outubro de 2016

O "noro"





 
Por Antonio Nunes Barbosa Filho (Tonton)


             Como de praxe, no segundo sábado do mês, Jacintinho se reunia com os amigos de infância para a cervejinha após a pelada do fim de tarde. Para muitos aquele encontro soava como uma alforria temporária, enquanto as esposas se deliciavam nas gastanças nos shoppings da cidade. Mas isso não incomodava o ponta direita da rua de cima, tampouco não ter conseguido fazer uma jogada correta naquele dia. Nem um cruzamentozinho só. Nadica de nada... Ele estava mais que para baixo era com as incessantes pendengas entre a patroa e a mãezona. Entretanto, o que ele não suportava mesmo eram os também incessantes elogios da genitora para o consorte da irmã mais nova. Era uma preciosidade aquele genro. A filha tirara a sorte grande ao casar com aquele rapaz. Era o orgulho entre todos os agregados à família, fazia questão de espezinhar abertamente a matriarca.

            Foi então que, sabe como é, né?!? Uma cervejinha vai, uma costelinha vem... e um espírito de porco vem com uma ideia de jerico: - Meu dileto amigo, quer dar um jeito nessa chateação, um grande susto na coroa? – perguntou-lhe Rubão. Como julgava não ter mais nada a perder, ele acatou a sugestão, ou melhor, a aposta.

            No dia seguinte, diante de toda família, pleno almoço de domingão a servir, chega Jacintinho em nova companhia.

            - Mãe, quero te apresentar Lupe. – disse ele em tom afável, de mãos dadas com aquele corpo escultural, que praticamente empurrava para os habituais beijinhos de boas-vindas.

            - Oi querida, que nome lindo! Você se chama Maria de Guadalupe, como a Virgem...

            - Não, senhora, eu me chamo Lupércio... e da... deixa pra lá!

            A conversa parecia ter se encerrado ali... por breves instantes, fez-se silêncio. Tomando o acompanhante do filho pelas mãos, levou-o à beira do fogão para tirar-lhe lições de quituteira. E saíram de lá, entre sorrisos e afagos... Ao final do almoço, quase infindáveis beijinhos, mais trocas de carinhos e votos de volte sempre.

            Quase que Jacinto enfarta. Não podia acreditar no que seus olhos viam e no que seus ouvidos ouviam...

            E pior, bem pior, além de ter que pagar a aposta, agora a mãe dele não o deixava mais em paz. Exigia a separação, fazia questão de ter Lupe como “noro”.

            Cheque pronto, valor preenchido, restou-lhe assinar: Jacinto A. (quem mandou se envergonhar do sobrenome Araquém) Paixão. Essa estória ainda vai longe. Tenho dito.

            Outro dia, Lupe voltou àquela casa para visitar a pretensa sogra. Tricotaram por horas...