sábado, 24 de outubro de 2009

Enfim, aconteceu...



Para Carmencita

Ela estava em êxtase ao sentir o toque de seda em suas mãos. Olhos vendados, parecia não existir nada mais importante para ela do que estar naquela cama. Era um momento sublime, de superação de medos, de tantos anseios surgidos ainda na juventude. Finalmente ela conseguiu se entregar sem o menor temor. Parecia que tudo mudaria dali em diante. A sua busca parecia ter chegado ao fim. A segurança que ela tanto esperava estava ao alcance de suas mãos. E ainda era dia. Ela fechara cuidadosamente as janelas, vedara todas as mínimas frestas para que tudo parecesse noite e, dando um toque especial ao ambiente, deixou um abajur rosa - com uma lâmpada de potência mínima - aceso.

Tudo era extremamente acolhedor. Diria mesmo que de encher os olhos, sedutor. O que ela mais desejava era se entregar até o amanhecer do outro dia... E assim aconteceu... Tudo exatamente como ela imaginara. Creio mesmo que a força do subconsciente, como que em súbita magia, a dominara. Afinal, fazia anos que ela desejava ardentemente, com todo o seu mais sincero querer, aquele momento. E, como lhe recomendara o terapeuta, nada de utilizar ansiolíticos, antidepressivos ou coisas do gênero. Era como se estivesse em uma nova lua-de-mel. Era preciso redescobrir o que havia ficado trás, em algum lugar do passado.

Era preciso fugir, para achar-se em si mesma. Pois já não fazia efeito sobre si nenhuma daquelas drogas, iogas, meditações, contagens de carneirinho etc. e tal, após milhares de noites de insônia. O bom e velho tapa-olhos, de tecido macio, preto, conformando-se anatomicamente ao seu rosto por intermédio de uma delicada presilha elástica, era tudo o que ela necessitava para, enfim, acontecer... Não foi por menos que ela generosamente o alcunhou no aumentativo.