segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Preliminares da Fliporto



No próximo sábado, 27 de agosto, a partir das 17h, no Restaurante Beijupirá Olinda - Rua Saldanha Marinho, s/n Cidade Alta (acesso pela rua lateral da Igreja do Amparo, subindo para o Alto da Sé), terá lugar a Primeira Prévia Fliportiana. Na ocasião, ao lado do jornalista e escritor Mário Hélio Gomes (Coordenador do Congresso Literário da Fliporto), discorrerei sobre o processo de curadoria literária das Fliporto Criança e Nova Geração, braços do evento dedicados aos públicos infantis e juvenis, respectivamente, bem como a todos os amantes e interessados na literatura infantil e juvenil.

Além do momento literário, o Beijupirá - em comemoração ao seu primeiro aniversário em Olinda (ao todo já são 20 anos de uma belíssima trajetória gastronômica) - colocará à disposição de sua clientela um cardápio especial e, às 20 h, um momento musical com a Jazz Blues Band. Reservas pelos fones (81)3439-6691 ou 9734-1144

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Crítica Literária para "Trem de Histórias"



Histórias de Trem
(Neide Medeiros Santos – Crítica literária FNLIJ/PB)

Antigamente
via-se o trem
rasgando a paisagem verde
resfolegando cansado...

(Cláudio Limeira. Réquiem para Maria Fumaça)

Trem de histórias – Antologia de contos juvenis (Caki Books Editora, 2011) reúne textos de autores e ilustradores associados da AEILIJ – Associação de Escritores e Ilustradores de Literatura Infantojuvenil. Compreende contos, crônicas e poesias. O trem é o personagem fulcral dessas histórias.
Antonio Nunes (Tonton), um dos integrantes da antologia, é paraibano de João Pessoa, professor da UFPE e autor premiado de livros para o público infantil e juvenil. É coordenador regional da AEILIJ em Pernambuco.
Trem de histórias traz de volta as lembranças das viagens de trem pelo interior do Brasil. Algumas vêm revestidas de um tom nostálgico. “O trem que não se foi”, de Alessandra Pontes Roscoe, é um bom exemplo; “Um trem para as meninas”, de Antônio Nunes (Tonton), retrata o cotidiano de uma família e o presente dado à filha – um trenzinho todo artesanal feito de madeira. A antiga parada de trem “Estação Ponte D´Uchoa” é motivo para divagações; “Trem de infância”, de Cláudia Gomes, é um poema de sabor bem mineiro; o bonde, primo-irmão do trem, é destaque no texto de JP Veiga – “O trilho”.
São 20 histórias que transportam o leitor para paisagens que só podem ser desfrutadas em uma viagem de trem. Alguns textos remetem a conhecidos poemas: Manuel Bandeira – “Trem de ferro”; Ascenso Ferreira – “Trem de Alagoas”; Marcus Accioly – “do trem-de-ferro”; Joaquim Cardozo – “Última Visão do Trem Subindo ao Céu” e Cláudio Limeira – “Réquiem para Maria Fumaça”.
As bonitas ilustrações do livro começam com uma xilogravura de um trem Maria Fumaça na capa. Esta ilustração nos lembra o poema de Ascenso Ferreira – “Trem de Alagoas” – um trem deslizando nos trilhos, soltando fumaça. Compondo a paisagem, um cajueiro carregadinho de frutos. Em terceiro plano, avistam-se bueiros de antigos engenhos. É uma ilustração saudosista e muito poética.
Identifiquei-me com a crônica de Luiz Antônio Aguiar – “Esse trem que me falta na lembrança” (Trem de histórias, p.55). Como o escritor, não conheci o trem na minha infância. Nasci e passei os primeiros anos de vida em uma pequena cidade do interior do Rio Grande do Norte despovoada de trens e de trilhos. Sinto a nostalgia de não ter viajado de trem na fase da aurora da vida.
Quando ouve falar em trem, Luiz Antônio Aguiar confessa que escuta o tchu-tchu do seu coração e bate uma saudade muito grande. Ele se recorda das músicas de Milton Nascimento e das cidades históricas de Minas Gerais – Ouro Preto, o convento de Caraça, tudo ali parece parado no tempo.
“Minha primeira viagem de trem” é o conto de Rosana Rios. A viagem foi feita na adolescência com um grupo de amigos. O trem saiu da estação Júlio Prestes e rumou para Mairinque, corria a década de 70. E foi um passeio inesquecível. Na volta, arranjou um namorado, companheiro de viagem.
As viagens de trem foram responsáveis por muitos encontros e desencontros, lenços balançando ao vento nas despedidas, choro das pessoas que ficavam nas plataformas, saudades e coração partido naqueles que iam em busca de novas aventuras.
Simone Pedersen conta uma história do ponto de vista de um maquinista de trem, o título é “O condutor”. Um trem turístico parte da Estação da Luz e vai para Santos. A viagem é demorada, com paradas para apreciar a paisagem. O trem anda por trilhas sinuosas, invade a privacidade da mata, desnuda flores, plantas, árvores e quedas de água. Para o condutor, esta é a melhor viagem da semana. As pessoas vão para um passeio, transbordam felicidade, “vão salgar a alma na praia”.
Uma pesquisa sobre o trem na poesia brasileira, trabalho desenvolvido com os alunos de Literatura Infantil na UFPB, me levou a muitas descobertas e amenizou o vazio deixado por essa saudade esquisita e inexplicável do trem que não povoou a minha infância.
O livro “Trem de histórias” veio relembrar os poemas que deram margem à pesquisa e reviver um período que deixou boas lembranças, lembranças poéticas.

Nota: No jardim da sede UBE/PE, Rua Santana, bairro de Casa Forte, existe um vagão antigo de trem que funciona como biblioteca. O vagão está cheio de livros e de sonhos.

Fonte: http://nastrilhasdaliteratura.blogspot.com/2011/08/historias-de-trem.html

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Coisas mágicas


Por Antonio Nunes (Tonton)

Pijamas devem ser mesmo instrumentos mágicos. Quando vejo minha filhinha de pijamas, de imediato, me transporto para a minha infância, reavivando uma de minhas mais tenras memórias. Retorno aos já longínquos anos de 1974,1975 ou menos. E lá, me encontro ao colo de minha querida Dona Zefinha que, sentada ao tamborete, aguava a grama do jardim sob a luz do luar. Enquanto me segurava com uma das mãos e com a outra zigue-zagueava a mangueira para espalhar a água por todo o gramado, me contava histórias que povoavam o seu imaginário semianalfabeto, precioso imaginário que me fazia flutuar por tantos lugares e por tão agradáveis momentos em companhia de uma infinidade de personagens. Dali, daqueles sonhos vívidos, me conduzia à cama, para tomar lugar ao chão ao lado desta, onde continuava a sua incrível sessão de encantamento. Das histórias de “Camonge”, de Trancoso – que anos mais tarde vim saber se tratar de Trancoso, do autor, não da bela praia baiana – e dos contos de fadas adaptados pelo vocabulário de uma singela nordestina, fui conduzido aos livros. Muitos livros, por sinal, que entraram em minha vida para nunca mais sair. Foi neles, entre tantas descobertas, que encontrei Monteiro Lobato que me disse, em tom particular, que “Um país se faz com homens e livros”. Acreditei que aquela missão me era – e ainda me é – confiada. Afinal, pela leitura que eu reconhecia me modificar, encher de poderes a cada nova página vencida, eu me imaginava fazendo não apenas um país melhor, mas um mundo melhor. Então, certo dia, resolvi escrever meus próprios livros. E lá estava Lobato, outra vez. Desta feita, a me dizer que “Tudo é sonho ou loucura no começo”, mas que tanto já havia sido feito que não haveria por que se duvidar que não conseguisse, pois quase tudo na humanidade teria sido alcançado desta mesma maneira. E com tal força também acreditei nestas palavras que as cunhei como epígrafe na tese de doutoramento, imagem só – de Engenharia – que certa feita escrevi. Dizem-me, mal me recordo dessas remotas lembranças, que ainda de pijamas, nas manhãs de domingo, explorava as enciclopédias e os gibis, como se fossem parceiras de um mesmo gênero da literatura: a descoberta. Ao refletir a este respeito, compreendi que foi justamente aí que aprendi a viver tanto quanto possível desprovido de preconceitos, pois cada qual teve e tem sua importância na formação do neoleitor e do futuro escritor. E tudo o que eu mais queria, ou melhor, desejo, é que a minha filha tenha iguais oportunidades de descortinar o mundo. Mas como anseio por um mundo mais justo, mais igualitário, mais humano, não posso deixar de imaginar que este direito fundamental deveria ser integralmente cumprido ou atendido para todas as crianças de nosso imenso país. E não me dou por satisfeito quando ouço dizer que este direito deveria ser estendido a estas, pois este direito elas já têm, não há porque negar-lhes ou supostamente propiciar-lhes como algo adicional, porque, em realidade, não o é. Acredito, firmemente, no papel transformador que o acesso ao livro e à leitura pode propiciar aos jovens. Liberta-nos da solidão, alegra bem mais que a tristeza passageira e das emoções que nos invadem em certos textos – contundentes, emocionantes, verdadeiros e com tantos outros adjetivos bem próprios da boa literatura – e nos ensina tantas coisas: geografia, costumes, outras línguas, além de ajudar a consolidar o bem precioso da escrita, do vocabulário na língua pátria e tanto mais. A leitura é generosa provedora de quase tudo. Até que um dia dizemos para nós mesmos, que descobrimos como por encanto, de súbito, que temos um tesouro em mãos: sabemos nos expressar! E esta faculdade, acreditem, pode nos levar muito longe. Verdadeiramente por todo o mundo, como hoje estou aqui.