terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

A ninja de pretinho básico...


Por Antonio Nunes

Seguiram-se dias de duro embate. As tradições e as diferenças culturais de seus ancestrais faziam-se sentir a cada novo encontro, que se tornavam cada vez mais frequentes e duradouros. Ela não queria de jeito nenhum ceder, pois não fazia parte de sua índole demonstrar qualquer sinal de fraqueza ou de submissão. Para ela era inadmissível confessar o desejo latente, a admiração e a paixão que, embora escondida e não estampada em seu rosto, crepitava em seu coração...
Um pesado orgulho de gerações suplantava qualquer tentativa de aproximação e eles apenas se entreolhavam à distância, separados pelo denso portão de ferro que o separava do jardim da casa ela, sempre repleto de flores, verdadeiramente inundado de cores, das ruas semiesburacadas por onde ele transitava para ganhar a vida como mercador de ilusões. Pois bem, ele era um simples artesão, fabricantes de marionetes que, mais de que para o seu sustento, serviam ao intuito de levar alegria às crianças pobres da região.
Com sua magia, ele fazia com que sorrisos se abrissem, olhos brilhassem e que, por instantes, mergulhassem em um mundo melhor – acreditando que ele poderia realmente existir e que tudo poderia ser bem diferente do que em realidade era – aqueles acorriam a vê-lo em seus espetáculos em sua modesta caixa de apresentações. Assim, embora de coração áspero, preparado para resistir às tentações do amor, ela também cedeu aos encantos dele, à sua singularidade, à sua mais que honesta sinceridade.
Entretanto, a sua formação de brava guerreira a fazia querer resistir àqueles singelos encantos que em outros corações talvez não pudessem vingar. Parecia até força do destino que se cumpria assim, do jeitinho que eu vou contar, preste atenção.
E, então, ela deu o golpe final, irresistível, fatal: deixou cair o vestido e o convidou ao ofurô... levando-o a terminar a noite no sono dos justos e dos ímpios... e dos apaixonados!


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