quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

A sedução de Titina...


Por Antonio Nunes
Adamastor Tinhorão Júnior era, sem dúvida, um dos homens mais ricos das Gerais. Era comerciante ágil. Ganhava anualmente rios de dinheiro, mesmo no Vale do Jequitinhonha. Aprendera, desde cedo, com Tinhorão pai, que todo e qualquer negócio honesto era bem vindo. E assim foi amealhando ganhos e aumentou a já polpuda fortuna recebida. Era filho único, não era casado e nem tinha filhos. Era cobiçado. Entretanto, tinha fama de ser duro na queda, além de galanteador. Negociava bois, cavalos, couro, café, borracha, madeira, aço, pedras preciosas e até peles de animais.
Ah! Isso se passava nos anos 60 e ainda não havia maiores preocupações ambientais...
Foi então que ele foi parar em Diamantina, bem naquele casarão da Rua da Glória e se encantou duplamente: com os olhos de Maria Cristina e com as ancas de Isaltina. A primeira baixando o olhar para não fitá-lo diretamente aos olhos e a outra a sorrir-lhe maliciosamente ao servi-lo o gostoso café, quente e forte que ele tanto gostava e que tomava aos cântaros na presença delas...
As visitas se repetiram, ganharam intensidade. E Tinhorão, cada vez mais, era servido com o que de melhor havia na casa. Entre goles de café servidos no bule de prata finamente decorado e as mordidas provocantes nos biscoites de polvilho doce, derretidos na ponta da língua – daquele jeito bem próprio para provocar –, ele encontrou uma paixão verdadeira. O sentimento tomou-o de assalto, de maneira tão forte que ele mesmo, anos depois, confessou-me que aquela foi a primeira e a derradeira... sem igual, nem comparação, diferente de tudo que já havia vivido. E olha que ele era, como dizemos por aqui, bastante rodado... Mas, só encontrou decepção...
Esperto que era, tratou de colocar preto no branco, assinado e passado em cartório, que não haveria comunhão de bens no casório e que, se não tivessem filhos, toda a herança iria, tostão por tostão, para a Santa Casa de Misericórdia...
Pois assim foi, meus amigos, enquanto de um lado ele ficou na ilusão, do outro, Titina ficou só com o sucesso parcial de sua sedução. Não conseguiu o êxito de levá-lo ao altar, por que não se satisfez em amá-lo sem quinhão...
E o Adamastor que não era bobo nem nada, voltou a colocar os pés na estrada. Desiludido, é verdade, mas com os cobres ainda na mão... A cada noite bem dormida, agradecia à companheira da noitada presenteando-a pela manhã com um fino corte de tecido e um perfume dos bão... Dizem que existem uns bacurinhos, já na terceira geração, espalhados por aí, com a cara e o jeitão dele. Aguardam o resultado do exame de DNA... A Santa Casa diz que não...

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