sábado, 14 de março de 2009

Ferrou geral...


Por Antonio Nunes Barbosa Filho

Para amigos(as) que devem ter aguentado poucas
e boas por causa do sobrenome na infância.


Existem pessoas que nascem e passam a vida inteira com marcas no corpo e na alma. Sinais e cicatrizes mais que estigmatizam, não as deixam passar despercebidas em meio à multidão. Outras, por sua vez, recebem nomes e apelidos que, se não detestáveis, dão margem a uma infinidade de situações, algumas jocosas até, outras constrangedoras. Bem, mas isso é a vida!
E quando somos crianças, aí é que as coisas parecem assumir proporções descomunais. O nosso despreparo para lidar com certas circunstâncias, com as nossas inseguranças – que alguns carregam por toda a vida como se fossem troféus e jamais as deixam para trás, como se deles dependessem – faz parecer que fomos atingidos por um golpe – quase – mortal, mesmo que seja uma única palavra, um único gesto, uma negação, tamanha a intensidade com que as percebemos...
Certas crianças, mestras em uma maldade incisiva, lacerante – algumas mais que outras – percebem o ponto frágil de outras e para afirmar-se em suas próprias frustrações, acabam por maltratá-las. Esse fenômeno tão antigo quanto a própria humanidade, tem chamado a atenção dos especialistas e ganhou até o pomposo nome de “bullying”. Dizem que o estão estudando seriamente e que a coisa vai melhorar... Duvido!
Eu, como sempre estive do lado dos fracos e oprimidos – por escolha própria, por incluir-me entre eles e por desde sempre detestar injustiças – tentava não me deixar cair em tentação e me policiava para não participar minimamente desses momentos de massacre. Mas, quando a gente é criança, muitas vezes, mesmo tentando ajudar a gente atrapalha...
Lembro-me bem, eu estava na 4ª série primária e acabara de ganhar uma nova coleguinha de classe, tímida como ela só. Impossível não sê-lo, com um nome daqueles...
Apesar de ser uma simpatia – depois de rompida a barreira inicial e quando se tornava mais próxima – e bem bonitinha, o que deixava roxas de inveja as patricinhas do colégio, o nome dela em nada ajudava: Adriana Fudeo. Não me lembro bem a origem da família dela, se era da Romênia ou da Grécia. O negócio é que ela não gostava muito em falar daquele nome. Também, pudera né?
Aí, certa vez, o professor de matemática fez a chamada e percebeu que ela não respondera, pois o nome dela ainda não estava listado entre os demais. Naturalmente, perguntou-lhe:
– Qual o seu nome, minha querida?
– Adriana! – foi só o que ela respondeu, baixando o olhar logo em seguida.
Então, como bom samaritano, tentei intervir:
– Ferrou Geral, professor, é Ferrou Geral!
Não teve como a turma não vir abaixo em uma estrondosa gargalhada. Ao invés de ajudar, tudo o que eu fizera fora ferrar geral... Fazer o quê?
Só depois é que o pobre professor, tão ou mais desconcertado do que eu, entendeu o que se passava...

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