quarta-feira, 23 de março de 2011

O galo mais vaidoso que já existiu





Assim que ele nasceu, disseram-lhe que ele estava predestinado a ser o galo-chefe do galinheiro. Aquele que tem por ocupação acordar toda a vizinhança ao anunciar o raiar do sol, a chegada de um novo dia. E ele vivia todo gabola, desde tenra idade, afinal daria continuidade a uma longa tradição de sua linhagem, de seus antepassados de quem se orgulhava incomensuravelmente. Ah, ele também ficava todo feliz por dizer essa palavra grandona aí, de um fôlego só e sem gaguejar. Nem sei se ele sabe que o que ela significa é “sem medida”. Isto é, algo de tão grande que fica mais que difícil, chega a ser quase impossível de se medir, de se colocar tamanho.
Ele se chamava Álvaro, mas era conhecido como Alvinho desde pequenininho. Era da família daqueles que cantavam ao alvorecer, que significa a mesma coisa que nascer do dia.
Até que, em um belo amanhecer, enfim, se aproximou o momento dele soltar a voz, de assumir para todo o sempre o posto que acreditava estar para si reservado, que seria seu de pleno direito. O grande dia havia chegado. O dia em que ele estrearia na função de despertador do mundo. Pelo menos era isso que ele imaginava. Penteou cuidadosamente cada uma de suas penas, arrepiou impecavelmente a crista e decidiu fazer um último acerto vocal. Mas, para tanto, para que pudesse emitir o mais belo som jamais ouvido de um galo, se pôs a gargarejar por repetidas vezes, incessantes vezes.
- Gorogogó, gorogogó, gorogogó... - foi tudo o que se ouviu por alguns minutos.
Afinal, ele estava ansioso para ouvir de todo o galinheiro elogios por sua cantoria. Ele tinha a convicção de que o espetáculo daquele dia seria inigualável. Enquanto gargarejava, sonhava acordado com a sua consagração e com os estímulos de todas as ordens que lhe seriam destinados.
Entretanto, ele se demorou tanto, tanto, que lá de um cantinho, ainda no poleiro, para não perder do sol nascente o brilho e o encanto e também para não deixar passar a oportunidade que tinha a certeza de que jamais se repetiria, um pequenino galinho tomou coragem e cantou:
- Co co co ri cóóóóó...
E todo o galinheiro aplaudiu e elogiou o dia inteirinho o canto do galinho, que acabou sendo convidado para repetir diariamente a sua apresentação. Por lá, ninguém falava em outra coisa a não ser naquela grata e inesperada surpresa de ouvir da minúscula criatura um canto em tão perfeita afinação.
Alvinho se desesperou e ficou irremediavelmente triste por dias seguidos, mas não teve jeito. Toda a vizinhança, não só o galinheiro, estava encantada com o canto do galinho.
Enfim, quem mandou ele ser tão vaidoso e contar com a omelete no prato antes mesmo de ter os ovos em mãos?
E quem disse que galo bota ovos?
Ih, que confusão... Acho que seria interessante a gente pedir ajuda a alguém para podermos entender melhor a situação, não acha? Sim! Não? E então, você mesmo saberia me dar uma explicação? Diz aí, qual a sua compreensão para a história que acabamos de ler?

2 comentários:

  1. Este conto surgiu de uma narrativa para alguns sobrinhos. A discussão que se seguiu, como quase todas as percepções do mundo infantil, foram bem interessantes... risos! Abs a todos, Tonton.

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