terça-feira, 3 de agosto de 2010

A lenda do Colibri



Por Antonio Nunes (Tonton)
Em lembrança de antepassados indígen
as


Contava o meu avô, de ancestrais Tabajaras, do tronco linguístico do Tupi, que habitaram estas terras do litoral nordestino, havia, em longínquos tempos passados, um ancião de coração transbordante de bondade e que vivera por quase mil anos em uma aldeia feliz, cuja felicidade parecia não ter mais fim.

Em tudo o que era possível ajudar os outros, lá estava ele sempre a postos. Foi então que Tupã, vendo tamanha generosidade, concedeu-lhe a graça de ter o sopro divino. Assim, dali em diante, bastava pegar um punhado de areia, colocá-la na palma da mão e com um suave sopro fazê-lo dispersar-se na atmosfera e se transformar em um campo de milho, que alimentaria a tribo e lhes saciaria a fome, ou em um campo florido que encheria de brilho os olhos daqueles que nele repousassem a vista...

A notícia da existência de um santo homem, milagroso, ganhou o mundo. Ou melhor, o dito novo mundo...

Todos os indígenas daquela aldeia viviam em paz e fartura até o dia em que aportaram por estas terras os ditos conquistadores, colonizadores. Ficaram surpresos, maravilhados com tal e inigualável capacidade de dar vida a coisas tão belas. Trancafiaram-lhe e exigiram dele que lhes ensinasse como realizar tal magia. Ele sorriu e disse que simplesmente não podia, pois não era dele aquele dom. Seus algozes, então, não acreditando em suas palavras, com os corações cheios de ganância e de cobiça, acharam que se tratava de um amuleto ou de algo parecido que ele possuía e que, portanto, deveria lhes ser repassado, entregue, para que alcançassem riquezas, ouro, diamantes, dentre outras pedras e preciosos metais. Ele, mais uma vez, sorriu e disse-lhes que não podia dar-lhes o que queriam, pois, definitivamente, não era algo de existência material.

Irritados, aqueles que invadiram as suas terras, terminaram por golpeá-lo até quase a morte. Ele pegou um punhado da areia ao chão, bendisse a terra onde nasceu, fechou a mão e em seu último respiro, sôfrego e ínfimo que foi, soprou por entre os dedos e deu vida ao colibri, pequeno que só e ágil, com destreza para voar em todas as direções e, dessa forma, com a habilidade de se desviar daqueles que tentam capturá-lo. Pode acreditar, foi desse jeitinho que os colibris surgiram.

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