quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Strike, Nina!



Fim de ano! As promessas de deixar para trás as mágoas, as invejas, os desentendimentos e todos os outros sentimentos não tão nobres são sempre renovadas, não é verdade?
E naquela firma tinha tudo para dar certo. Chefe novo, embora não tão novo, quero dizer, já bastante experiente, cheio de boas intenções e de ideias na cabeça. E, pelo que tudo indicava e fazia crer, era extremamente humano. Tal perfil era de crucial importância para aquele tipo de organização: uma empresa de telemarketing, com milhares de trabalhadores – e que, certamente, era a maior empresa do ramo em toda a América Latina.
Como queria entrosar-se rapidamente com todos os supervisores, uns 20 ou 30 ao todo, convidou-os a participar de uma confraternização em um boliche num shopping center local. Ele mesmo se encarregaria de explicar as regras e dar algumas dicas aos não-iniciados ou neófitos naquele esporte que praticava desde o tempo em que estivera nos Estados Unidos para a sua primeira temporada naquele país, ainda quando estudante do ensino médio. Àquele intercâmbio seguiram-se estadias para um MBA, para um mestrado e também para várias férias em Orlando, Nova Iorque, Miami e até para uma conexão numa ida rápida a Cancun que, aliás, ele detestou. Para ele, o “american way of life” era simplesmente o máximo!
Todos presentes, formaram-se as equipes. Até mesmo aqueles que nunca haviam pisado naquele tipo de tablado se envolveram na brincadeira. E ele tinha um motivo especial para ser solícito e atencioso. A bela e charmosa Nina – a quem já observava com olhos de lobo mau, havia dias – estava ali, bem ao alcance de suas mãos, literalmente. Formas generosas, sorriso largo, dentes perfeitos, batom e perfume sempre a postos. O conjunto da obra era uma máquina perfeita de sedução. Com ares de despretensiosa modéstia, ele ajudava-a a escolher as bolas, ensinava-a a postura correta a adotar a cada lance e por aí vai. Chegou mesmo a ganhar alguns sorrisos e olhares de soslaio em retribuição.
Foi então que a sorte de principiante do Severino começou a chamar a atenção. Strike! Strike! Strike! Em poucos minutos a coisa toda já havia mudado, sabe-se lá de onde surgira a ideia, mas estava em curso uma disputa homem a homem. O chefe e o Severino, apenas os dois, para o deleite dos curiosos que começavam a se aglomerar para observar o entrevero “bolichístico”.
Strike! Strike! Strike! A platéia aplaudia efusivamente os competidores a cada bola arremessada. E Nina já dividia a sua admiração. O embate se tornava cada vez mais duro...
Foram incríveis 32 strikes seguidos. Páreo duríssimo. Coisa de cinema. Era mesmo de se filmar tudinho e mostrar em detalhes, em câmera lenta, no programa televisivo dominical, naqueles em horário nobre. Foi então que serviram ao Severino um caldinho. Era o último arremesso do chefe. Ou arrancava o empate ou perdia o certame. O que jamais acontecera antes! O Severino caiu de lado, antes do tempo previsto. A bola partiu, meio sem prumo e, lá no fim, bem próximo aos pinos, foi ganhar a canaleta.
Os legistas encontraram no corpo da vítima uma generosa porção de um poderoso veneno: estriquinina!
É da natureza humana. Dizem que ele, hoje fugitivo, já foi visto pelo interior do Texas, Dakota e Wyoming... Em lugares menos competitivos, ora essa!

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