quinta-feira, 26 de março de 2009

Sublime...


Para aqueles dedinhos de princesa…
Por Antonio Nunes



Não tive como dizer não àqueles encantos. O seu toque tinha aquela energia incontida e faiscante. O olhar, sincero e cativante, não deixava dúvidas de que ela também queria ser minha, com toda a intensidade que eu estava me permitindo ser dela. Por vezes, chegava a ser desconcertante o meu travamento. Parecia que eu entrava em transe por alguns segundos e quando recuperava a concentração, a lucidez, lá estava eu me percebendo a admirar prazerosamente tão adorável senhorita.
Sentada ao meu lado, fazia-me parecer que não havia mais mundo, que não havia mais nada além dela. E se houvesse, de que me importava? Durante aquelas horas que passamos juntos, sequer percebi quem passou junto a mim. Eram todas delas as minhas atenções, os meus desejos, os meus pensamentos.
Trazíamos no rosto um sorriso colado, imutável, de felicidade que denunciava o nosso querer, pois sabíamos que éramos mutuamente correspondidos. Ela também tinha certeza disso, não foi preciso reafirmar-lhe nada.
Passou a mão em volta de meu pescoço com algum esforço, tamanha a diferença entre nossas alturas. – Foi o único momento em que se afastou, minimamente, de mim. – Disse-me gostar da maciez e da fina textura de meus cabelos grisalhos. Tudo parecia ser novidade. Pelo menos pra mim, era! E foi bom...
Então, me confessou, aconchegando-se em meus braços, como se confiando a mim o seu destino, o seu futuro: – Preciso que cuide de mim! – e me fitou com a doçura de quem deixa transparecer a profundeza da alma, sem temor algum, com a certeza da ingenuidade e a clareza da confiança.
– Sim, claro! Cuidaremos um do outro. – disse-lhe de imediato. E dali em diante, tudo foi sublime, até o fim...

sexta-feira, 20 de março de 2009

Nova historinha infantil..


Por Antonio Nunes

Está vindo aí mais uma nova historinha infantil: " A formiguinha viajante", que nasceu num formigueiro no Parque da Jaqueira e ganhou o mundo... subiu nas paredes da igrejinha, encontrou um cupim malandro, surfou numa folha, planou nas plumas de um passaro, cruzou o Capibaribe, até alcançar o mar...

Já imaginaram as aventuras pelas quais passará a nossa amiguinha? Vale a pena esperar...

quinta-feira, 19 de março de 2009

FRAUnheta...



Para um amigo que sofreu com a frieza
das terras germânicas...
Por Antonio Nunes


Como filho de diplomatas, tive a oportunidade de conhecer muitos países, seus povos e seus costumes. Alguns dos quais indescritíveis, como aqueles das Ilhas do Pacífico Sul. Mesmo que eu os conseguisse descrever com toda a riqueza de detalhes que eu pudesse fazer, ainda assim vocês diriam que não passavam de uma intensa alucinação de minha mente após experimentar alguns destes chás transcendentalizantes que existem aos montes por estes rincões distantes –ou nem tanto – do mundo.
Mas uma das coisas mais incríveis que já presenciei foi a incrível força e habilidade demonstrada pelas garçonetes dos festivais de cerveja na Alemanha. Por favor, façam as contas comigo: são, por vezes, doze, isso mesmo, doze canecas de 500 ml completamente cheias, em cada uma das mãos. Só aí já vão mais de seis quilos por mão, fora o peso das próprias canecas que, em conjunto, devem resultar um mínimo de dez quilos em cada um dos punhos, que não se deixam esmorejar ou abater mesmo depois de servir bebidas por quatro horas ininterruptas.
Em um destes festivais tive a felicidade de conhecer Hanna, uma senhora de seus 45 anos, que ostentava o invejável título de suportar incríveis 26 canecas por mão. Haja mão! Era uma verdadeira pirâmide de canecas, uma sobre as outras, que ela fazia questão de desfilar por todo o salão, para ir servir justamente as mesas mais afastadas do balcão... Era uma incorrigível exibicionista!
Frequentando o local todos os dias, acabei me aproximando dela e conheci a sua bela filha: Herta. Uma maravilhosa loirinha, de lindos e cintilantes olhos azuis, cinturinha fina e marcada pelo avental xadrez, vermelho e preto, que todas as garçonetes usavam por sobre o belo vestido típico. Ah, e ela era dona de um sorriso estarrecedor... Os mais jovens, como eu, tremiam só de vê-la passar e em nossos banhos em água fria que o velho aquecedor da pensão para estudantes não conseguia aquecer nos dias mais frios...
Pois bem, permanecendo na cidade a estudo por alguns meses acabei descobrindo de onde vinha tanta destreza, habilidade e firmeza nas mãos daquelas cidadãs. Sabe como é, né? Juventude, hormônios à flor da pele... Ela não quis um envolvimento mais sério, nada duradouro, sabia que eu me mudaria dali a alguns meses para uma outra localidade.
Alguns anos depois soube que ela se candidatara e fora eleita pelo Partido Liberal para o Parlamento nacional, valendo-se do carinhoso apelido que lhe concedi em certa ocasião. Ela não entendia de que se tratava, mas compreendia perfeitamente a inspiração. E creio mesmo que tão adequada alcunha dera-lhe muita sorte...
Sabe qual o lema da campanha dela?
Vote em “FRAUnheta” – que põe mãos à obra, com toda a dedicação!
Com tanto empenho, impossível não ser eleita. Não é verdade?

sábado, 14 de março de 2009

Ferrou geral...


Por Antonio Nunes Barbosa Filho

Para amigos(as) que devem ter aguentado poucas
e boas por causa do sobrenome na infância.


Existem pessoas que nascem e passam a vida inteira com marcas no corpo e na alma. Sinais e cicatrizes mais que estigmatizam, não as deixam passar despercebidas em meio à multidão. Outras, por sua vez, recebem nomes e apelidos que, se não detestáveis, dão margem a uma infinidade de situações, algumas jocosas até, outras constrangedoras. Bem, mas isso é a vida!
E quando somos crianças, aí é que as coisas parecem assumir proporções descomunais. O nosso despreparo para lidar com certas circunstâncias, com as nossas inseguranças – que alguns carregam por toda a vida como se fossem troféus e jamais as deixam para trás, como se deles dependessem – faz parecer que fomos atingidos por um golpe – quase – mortal, mesmo que seja uma única palavra, um único gesto, uma negação, tamanha a intensidade com que as percebemos...
Certas crianças, mestras em uma maldade incisiva, lacerante – algumas mais que outras – percebem o ponto frágil de outras e para afirmar-se em suas próprias frustrações, acabam por maltratá-las. Esse fenômeno tão antigo quanto a própria humanidade, tem chamado a atenção dos especialistas e ganhou até o pomposo nome de “bullying”. Dizem que o estão estudando seriamente e que a coisa vai melhorar... Duvido!
Eu, como sempre estive do lado dos fracos e oprimidos – por escolha própria, por incluir-me entre eles e por desde sempre detestar injustiças – tentava não me deixar cair em tentação e me policiava para não participar minimamente desses momentos de massacre. Mas, quando a gente é criança, muitas vezes, mesmo tentando ajudar a gente atrapalha...
Lembro-me bem, eu estava na 4ª série primária e acabara de ganhar uma nova coleguinha de classe, tímida como ela só. Impossível não sê-lo, com um nome daqueles...
Apesar de ser uma simpatia – depois de rompida a barreira inicial e quando se tornava mais próxima – e bem bonitinha, o que deixava roxas de inveja as patricinhas do colégio, o nome dela em nada ajudava: Adriana Fudeo. Não me lembro bem a origem da família dela, se era da Romênia ou da Grécia. O negócio é que ela não gostava muito em falar daquele nome. Também, pudera né?
Aí, certa vez, o professor de matemática fez a chamada e percebeu que ela não respondera, pois o nome dela ainda não estava listado entre os demais. Naturalmente, perguntou-lhe:
– Qual o seu nome, minha querida?
– Adriana! – foi só o que ela respondeu, baixando o olhar logo em seguida.
Então, como bom samaritano, tentei intervir:
– Ferrou Geral, professor, é Ferrou Geral!
Não teve como a turma não vir abaixo em uma estrondosa gargalhada. Ao invés de ajudar, tudo o que eu fizera fora ferrar geral... Fazer o quê?
Só depois é que o pobre professor, tão ou mais desconcertado do que eu, entendeu o que se passava...