segunda-feira, 19 de julho de 2010

O baile perfumado





Sexta-feira, oito da noite, o táxi parado a esperava para levá-la à escola de dança onde haveria um baile-demonstração. Seria uma oportunidade para conhecer alguém interessante, fazer novas amizades e, quem sabe, até mesmo conseguir descolar um bom parceiro para o bailado.
Foi Amanda, sua colega de sessões de Pilates e de hidroginástica, quem lhe falou daquele baile tão especial na primeira sexta-feira de cada mês. Banho cuidadosamente tomado, perfume delicadamente borrifado ou, como dizem os especialistas, atomizado por sobre as articulações do corpo e no pulso – pontos de calor, logo, de suave aquecimento e de exalação do sedutor aroma –, e o vestido certo, devidamente ajustado ao corpo. E o que seria o vestido certo para a ocasião?!? Ah, se você é mulher e não sabe, precisa rever urgentemente o seu guarda-roupa. Se você é homem e também não sabe, precisa urgentemente prestar mais atenção nas belas, livres e sedutoras balzaquianas. Ah, e a aprender a apreciá-las, em amplo e irrestrito sentido.
Festa compartilhada, homens trazem as bebidas, as mulheres alguns petiscos... e está feita a festa. Aliás, o baile. No início, tímida, desenturmada, ela resolve tomar uns drinques para deixar a inibição de lado. Depois de duas voltas no salão, ela estava de braços com o mais desejado partido, que flutuava sob seus encantos. E ele insistia em ir além, em conseguir um beijo ao fim da noite ou algo mais, talvez ainda naquela madrugada ou no final de semana seguinte. Ela fazia jogo duro. Ele deixou o seu cartão de visitas discretamente sobre a mesa e passou-lhe às mãos, apertando-as contra as dele, enquanto a fitava decidida e cobiçosamente. Ela esboçou um sorriso, agradeceu e, de imediato, o guardou em sua minúscula bolsa.
Quinze dias depois ela estava de volta de uma semana em Paris, com muitos perfumes na bagagem, sem dúvida alguma. Questionada sobre como conseguira o dinheiro para aquela regalia, ela que sempre reclamava da magra aposentadoria de funcionária pública, confessou:
– Sabe aquele cartão com o telefone daquele coroa bonitão que conheci naquele baile ao início do mês? – fez ares de confessionário para a amiga que lhe falara do baile.
– Não acredito que você aceitou a corte daquele canalha do Magnovaldo? – retrucou a outra.
– Que nada, menina! Claro que não, imagine... simplesmente rifei-o... – e deixou atônita,sem acreditar no que ouvia, a sua confidente.
Afinal, dizem que quanto mais canalha, mais valorizado o passe... Sei não, mas as mulheres...

2 comentários:

  1. Pelo que soube, naquela noite tocava Carmen de Bizet... Ou seria o Bolero de Ravel?

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  2. Acho que tocava Carmen, de Bizet......

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