terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Um amor às avessas...


Texto Antonio Nunes (Tonton)

– Cortem-lhe a cabeça! Cortem-lhe a cabeça! – esbravejava, insistentemente, a Rainha de Copas.

E de onde viria tamanha aridez naquele coração? Devia haver um coração naquela mulher. E não somente nas vestes e no cetro, não é verdade?

Estranho paradoxo este. De quem, pelo nome, poderia se esperar um imenso amor,
emanava tanto desamor, o qual, sem dúvida, seria fruto de uma profunda tristeza. E qual seria a razão para tanto?

Foi somente no período natalino que passei naquelas terras que pude compreender tal questão em toda sua extensão. Ela o odiava com todas as suas forças, e tudo o mais a ele relacionado: árvores e bolas coloridas, luzes piscantes, guirlandas, pingentes e todas as demais decorações da estação. Meias e sapatinhos na janela? Nem pensar. Era decapitação na certa!

Afinal, foi justamente por ocasião de um Natal que ela fora abandonada pelo até então Nicolau, que a deixou para trás, assim como o seu reino, para viver em outras terras, onde encontrou o amor verdadeiro, simples, mas completo, de uma mulher despojada de vaidades, da riqueza, da ostentação, para viver uma vida de sacrifício, mas recheadas com muitas pequenas alegrias.

Infelizmente, parece que a Rainha não aprendeu a lição, pois continua a gritar para todas as mulheres atraentes que cruzam o seu caminho e, mesmo sem ter culpa alguma ou a mínima intenção, ameaçam suas pretensões:

– Cortem-lhe a cabeça! Cortem-lhe a cabeça!

Bem, mas para terem um dia se aproximado, alguma coisa teriam que ter em comum: os
dois adoravam o vermelho!

Coisas da juventude, podemos afirmar...

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Coisas do coração...


Texto Antonio Nunes (Tonton)

Baseado na ilustração de Emerson Pontes


Quem diria,quem diria?!
Que aquele encontro fora definitivo,
Afora as diferenças, eram plenas semelhanças,
Completaram-se, tornaram-se indissolúveis,
A presença de um, era a garantia do outro, em muitos sentidos,
Eram cúmplices nos gestos, nos olhares, nos desejos que conduziram eternidade afora,
E palavras eram desnecessárias...
Bastava-lhes o suave calor do contato de seus corpos,
Ela reflexiva, ele sonhador,
Ela retraída, ele expansivo,
Ela batalhadora, ele sedutor,
Quem diria, quem diria?!
Para este improvável, indescritível e insuperável amor,
Não há outra explicação...
Coisas do coração.